Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick [sessão especial]
17 Novembro 2009, 21h - FEUP B003
c/ convidado especial, Doutor Carlos Melo Ferreira
Título Original: A Clockwork Orange
Reino Unido/EUA, 1971, 136’, M/16
Argumento:
Stanley Kubrick, Anthony
Burgess
Interpretação:
Malcolm McDowell,
Patrick Magee, Michael Bates, Warren
Clarke, John Clive, Aubrey Morris ...
Alex e o seu bando envolvem-se em diversas actividades violentas numa Inglaterra futurista na época (1971). Sem abandonar um tom trocista, Alex entrega-se ao sexo e à violência mas também à música de Beethoven.
Depois do assassínio de uma mulher que vive só (a mulher dos gatos) é traído pelos companheiros e preso. Na prisão aceita ser submetido a um tratamento, tipo lavagem ao cérebro, que o leva a detestar a violência e o espectáculo dela, mas também a música de Beethoven.
De novo em liberdade vê-se rejeitado e sente-se perdido. Sofre então a vingança das suas vítimas anteriores e dos seus antigos companheiros, e colocado perante a audição da 9ª Sinfonia de Beethoven atira-se da janela. Tratado no hospital, volta a poder encarar o futuro.
Interessa perceber se as questões que o filme levanta (violência e controlo social, livre-arbítrio, instrumentalização política), que foram muito discutidas aquando da sua estreia, encontram resposta no próprio filme e se mantêm actuais. O que origina a violência dos jovens? Justifica-se um dispositivo que anule a possibilidade de escolha? Qual a fronteira entre a violência socialmente organizada e a violência socialmente perniciosa?
O que pode permitir ao espectador pensar o filme é o modo como o próprio filme pensa o espectador, remetendo-o sem salvação para um universo circular, sem saída para o protagonista a não ser o regresso àquilo que foi. Como nos seus outros filmes, Stanley Kubrick confronta-nos com uma visão do mundo sem concessões e com questões fundamentais, para as quais temos que ser nós, espectadores, a encontrar as respostas. Mas o filme não se limita às questões que coloca, já que tem uma grande riqueza visual.
Uma das questões centrais do filme é a do efeito da overdose de imagens de violência do tratamento de Alex. Para que serve o cinema? Como é utilizada a imagem?
Outra questão central é mesmo a do livre-arbítrio. Ainda existe, num momento em que todos podem ser programados? Sobre isto, vejam-se também os filmes de Steven Spielberg “I.A. – Inteligência Artificial”/”Artificial Intelligence: A.I.” (2001, a partir de um projecto de Stanley Kubrick) e “Relatório Minoritário”/”Minority Report” (2002).
Carlos Melo Ferreira