terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Nascido Para Matar, de Stanley Kubrick

15 Dezembro 2009, 21h - FEUP B003

Título Original: Full Metal Jacket

EUA, 1987, 116’, M/16

Argumento:
Stanley Kubrick, Gustav
Hasford, Michael Herr

Interpretação:
Matthew Modine, Adam
Baldwin, Vincent D’Onofrio, R. Lee
Ermey ...



Se Saramago inverteu nos seus livros a perspectiva da história, lembrando os feitos históricos como os causadores do sofrimento da classe operária, Kubrick não fez menos nesta grande obra, onde as causas e motivos da guerra são esquecidos para que nos possamos concentrar devidamente naqueles que, inocentemente, são obrigados a fazê-la acontecer. Assim, Kubrick divide o filme em duas partes distintas:

A preparação. Tantas vezes esquecida, parece impossível pensar que esta fase dos acontecimentos pode ser sequer ofensiva, quando pode de facto ser fatal. Kubrick faz questão de nos mostrar como um homem normal passa do seu estado pacífico a um estado em que não só passa a ter como objectivo, como tem o desejo de matar inocentes. Tudo em nome de uma causa desconhecida (nunca durante o filme é referido o porquê), tudo em nome da pátria. “SIR, YES, SIR” O homem deixa de ser homem para ser transformado em máquina, uma máquina de guerra, feita para matar.

Da ilha de treinos ao Vietname. Guerra? A principio não vemos nada... Vemos jornalistas de guerra, treinados como soldados, que por isso proferem sobre a paz “um dia sem sangue é um dia sem sol”. Este filme não se esquece sequer desta parte, pois em guerra, as consequências para quem está de fora, são-nos dadas por estes, cuja felicidade está no extremo oposto da paz. Mas enquanto tudo está bem, nisto a guerra começa de verdade. Deparámo-nos com um cenário de guerra inesperada. Mortes. “Antes tu que eu.” Mortos.

Para que serve toda esta frieza? Para que serve toda esta crueldade? Não interessa. “Sou uma máquina de guerra! Estou num mundo de merda, sim... Mas estou vivo.”

André Duarte

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Poster Branco

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick [sessão especial]

17 Novembro 2009, 21h - FEUP B003
c/ convidado especial, Doutor Carlos Melo Ferreira

Título Original: A Clockwork Orange

Reino Unido/EUA, 1971, 136’, M/16

Argumento:
Stanley Kubrick, Anthony
Burgess

Interpretação:
Malcolm McDowell,
Patrick Magee, Michael Bates, Warren
Clarke, John Clive, Aubrey Morris ...


Alex e o seu bando envolvem-se em diversas actividades violentas numa Inglaterra futurista na época (1971). Sem abandonar um tom trocista, Alex entrega-se ao sexo e à violência mas também à música de Beethoven.

Depois do assassínio de uma mulher que vive só (a mulher dos gatos) é traído pelos companheiros e preso. Na prisão aceita ser submetido a um tratamento, tipo lavagem ao cérebro, que o leva a detestar a violência e o espectáculo dela, mas também a música de Beethoven.

De novo em liberdade vê-se rejeitado e sente-se perdido. Sofre então a vingança das suas vítimas anteriores e dos seus antigos companheiros, e colocado perante a audição da 9ª Sinfonia de Beethoven atira-se da janela. Tratado no hospital, volta a poder encarar o futuro.

Interessa perceber se as questões que o filme levanta (violência e controlo social, livre-arbítrio, instrumentalização política), que foram muito discutidas aquando da sua estreia, encontram resposta no próprio filme e se mantêm actuais. O que origina a violência dos jovens? Justifica-se um dispositivo que anule a possibilidade de escolha? Qual a fronteira entre a violência socialmente organizada e a violência socialmente perniciosa?

O que pode permitir ao espectador pensar o filme é o modo como o próprio filme pensa o espectador, remetendo-o sem salvação para um universo circular, sem saída para o protagonista a não ser o regresso àquilo que foi. Como nos seus outros filmes, Stanley Kubrick confronta-nos com uma visão do mundo sem concessões e com questões fundamentais, para as quais temos que ser nós, espectadores, a encontrar as respostas. Mas o filme não se limita às questões que coloca, já que tem uma grande riqueza visual.

Uma das questões centrais do filme é a do efeito da overdose de imagens de violência do tratamento de Alex. Para que serve o cinema? Como é utilizada a imagem?

Outra questão central é mesmo a do livre-arbítrio. Ainda existe, num momento em que todos podem ser programados? Sobre isto, vejam-se também os filmes de Steven Spielberg “I.A. – Inteligência Artificial”/”Artificial Intelligence: A.I.” (2001, a partir de um projecto de Stanley Kubrick) e “Relatório Minoritário”/”Minority Report” (2002).

Carlos Melo Ferreira

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Poster

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Dr. Strangelove, de Stanley Kubrick

3 Novembro 2009, 21h - FEUP B003

Título Original: Dr. Strangelove

EUA, 1998, 117’, M/12

Argumento: Stanley Kubrick,
Terry
Southern e Peter George

Interpretação:
Peter Sellers, George C.
Scott, Sterling Hayden, Keenan Wynn,
Slim Pickens, Peter Bull ...




Nos dias da sua estreia, Dr. Strangelove ganhou a aura encantada de um filme que, mais que uma comédia, era uma autêntica crítica à conjectura política mundial. "Antes morto que vermelho" e vice-versa, ambos lados da Guerra Fria estavam prontos para rebentar com os seus inimigos, nem que isso custasse toda a humanidade.

A Bomba tinha chegado para ficar e esta obra de Kubrick foi como um autêntico copo de água na cara das pessoas, acordando-as da estupidez politico-popular que vivam, onde a vida humana não valia mais que feijões num jogo político entre duas potências cujo objectivo era destruírem-se uma à outra.

Peter Sellers, numa brilhante representação de três personagens totalmente distintas, é ao mesmo tempo o Presidente dos EUA, o "heróico" Capitão Lionel Mandrake (o único homem no filme que, visto como um totó, é o único que lhe parece passar ao lado o porquê da guerra) e ainda o lendário Doktor Merkwürdigliebe, conhecido cientista que, com a queda do regime Nazi, emigrou para a América tornando-se conhecido como Dr. Strangelove.

A juntar a este trio de uma só pessoa, a representação neste filme fica ainda marcada com o General ‘Buck’ Turgidson (George C. Scott), o homem que vê na guerra nada mais que um jogo sem consequências e o histórico Major ‘King’ Kong (Slim Pickens) cujos gritos deixam na memória o delírio de um maníaco por armas, que morre montando um míssil atómico, sem se perceber se grita de terror ou felicidade.

Basta analisar as personagens para perceber que, passados 45 anos, o tempo provou que este é um filme intemporal, merecedor de toda a atenção de qualquer ser humano que empreste 90 minutos da sua vida para reflectir as consequências que a actuação desmedida pode causar, seja ela nos anos 60, seja ela nos dias de hoje.

André Duarte
(baseado na crítica de Roger Ebert)

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terça-feira, 20 de outubro de 2009

O Grande Lebowski, de Joel Coen e Ethan Coen

20 Outubro 2009, 21h - FEUP B003

Título Original: The Big Lebowski

EUA, 1998, 117’, M/12

Argumento: Ethan Coen e Joel Coen

Interpretação: Jeff Bridges, John Goodman, Julianne Moore, Steve Buscemi ...




"The Big Lebowski", essa obra genial dos irmãos Coen, é uma comédia que, de tão aleatória, deveria vir acompanhada do mesmo aviso que Mark Twain deu àsua obra "Huckleberry Finn": "Quem tentar encontrar um enredo aqui, deve ser abatido".

Jeff "The Dude" Lebowski, o protagonista, é-nos narrado como "o maior preguiçoso de Los Angeles", sem emprego vivendo apenas para jogar bowling, desejando uma vida sem qualquer interrupção na sua heróica sedentariedade quando nisto é confundido com um milionário chamado Big Lebowski, com consequências trágicas na sua vida mais que perfeita.

The Dude (Jeff Bridges) é "ajudado" por Walter Sobchak (John Goodman), veterano de guerra, que em qualquer situação, por mais vulgar que seja, a compara aos traumáticos momentos que viveu no Vietname, e Donny (Steve Buscemi), cuja inteligência não é ponto forte e cuja personalidade impede de, durante todo o filme, proferir qualquer frase até ao fim, sendo que os três vão tentar resolver a confusão entre os Lebowski, numa série de eventos quase irreais, mas que apesar de tudo, quase todos baseados em eventos reais e experiências dos realizadores.

Em espírito, o filme assemelha-se a "Raising Arizona", dos mesmos realizadores, no elenco de personagens peculiares cujos brilhantes diálogos fazem de “Big Lebowski” o filme mais "quotable" (em português, próprio para ser citado) de sempre, com o impressionante número de 147 excertos na secção de citações memoráveis do site IMDB.

O Grande Lebowski é, mais uma vez, um filme para ver, enxaguar as lágrimas causadas pelo riso incontrolável, rever e repetir a operação.

André Duarte
(baseado na crítica de Roger Ebert)

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