domingo, 25 de abril de 2010

Feios, Porcos e Maus, de Ettore Scola

27 Abril 2010, 21h - FEUP B003


Título Original:
Brutti, sporchi e cattivi
Itália, 1976, 115’
Argumento:
Sergio Citti, Ruggero
Maccari, Ettore Scola
Interpretação:
Nino Manfredi, Maria
Luisa Santella, Francesco Anniballi,
Maria Bosco, Giselda Castrini

“Brutti sporchi e cattivi”, 1976, acorda-nos estremunhados na rotina de uma família italiana. O pai, Giacinto, ganha uma pensão por invalidez e vive no medo de que lhe roubem o dinheiro. Angústia, aliás, justificada pelas atitudes de todos os seus familiares, que habitam consigo num bairro degradado nos subúrbios de Roma. A sordidez e a mesquinhice desta familia são apenas igualadas pelo horror que nos provocam a sua promiscuidade e violência, constantes ao longo de todo o filme. De cena em cena, vamos mergulhando na náusea quotidiana das personagens, verdadeiros anti heróis cuja vivência carece de qualquer tipo de valor moral ou afectivo.

“É compreensiva. Basta que lhe bate”. Um dos grandes trunfos do autor é o humor sarcástico com que presenteia o espectador ao longo de todo filme. Repare-se, a titulo de exemplo, no quadro por cima da cama do casal, que apregoa Amor e Fidelidade, ou no neto que passeia um barco de papel numa pia baptismal. De notar, também, a presença de Maria Libera, símbolo singular, se não de algum valor propriamente dito, pelo menos de algum comedimento e cuidado. Dela não se conhecem sonhos ou ambições, nem se desdobra em atitudes desonrosas, como a restante família. Pareceria que o realizador a colocara aqui para dar algum alento ao espectador, perdido em tamanha escuridão. Mero engano: acaba sendo ela a desferir o golpe fatal, num dos finais mais perturbadores que já vi no grande ecrã.

Ettore Scola (1931), um dos grandes realizadores italianos, que teve a sorte – o azar? – de nascer contemporâneo de outros mestres do cinema, esses já bastante mais conhecidos por todos.

Sara Riobom

terça-feira, 20 de abril de 2010

O Quarto do Filho, de Nanni Moretti

20 Abril 2010, 21h - FEUP B003

Título Original: La Stanza del Figlio
Itália, 2001, 99’
Argumento: Nanni Moretti
Interpretação: Nanni Moretti, Laura Morante, Jasmine Trinca, Giuseppe Sanfelice

Nanni Moretti, cujas comédias altamente pessoais e sem qualquer tipo de equivalente lhe valeram-lhe a alcunha de Woody Allen europeu, decide experimentar-se no drama e realiza esta que é uma das suas maiores obras, O Quarto do Filho.

Neste filme vemos o drama de uma família igual a tantas outras, afectada por um desastre quando, inesperadamente, um dos filhos sofre um acidente, desaparecendo das suas vidas e deixando um espaço vazio em cada um deles.

Giovanni (Moretti, que protagoniza, escreve e realiza o filme), psicanalista de profissão, vê-se forçado a deixar de cuidar dos problemas de outros, deixando o seu emprego de forma a cuidar dos problemas da sua família, cuja tragédia vai separando de dia para dia.

O regresso à normalidade é duro, quando até o menor detalhe traz à memória recordações fatais, causando sentimentos de sofrimento, culpa, o desejo impossível de voltar ao passado e não repetir os mesmos erros. Moretti narra-nos todos os pormenores através de metáforas que fazem deste filme uma obra sentimental sem nunca cair na costumeira lenga-lenga dos dramas comerciais.

Vencedor do mais conceituado prémio de cinema de autor, Palma d’Ouro de Cannes em 2001, este filme marca qualquer espectador pela maneira especial com que nos toca, deixando bem assente a marca pessoal de Nanni Moretti, fazendo desta uma boa obra para explorar um dos mais recentes mestres do cinema europeu.

André Duarte

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Persépolis, de Marjanne Satrapi e Vincent Paronnaud

13 Abril 2010, 21h - FEUP B003


Título Original: Persepolis
França/EUA, 2007, 96’
Argumento: Marjanne Satrapi e Vincent Paronnaud
Interpretação: Chiara Mastroianni, Catherine Deneuve, Danielle Darrieux, Simon Abkarian

Ganhou o Prémio de Júri no Festival de Cannes no ano de 2007 e foi nomeado para Palma de Ouro. Foi um dos nomeados para o Óscar de melhor filme de animação, mas perdeu para Ratatouille. Mas ganhou o Prémio do Público nos festivais de São Paulo e foi considerado Melhor Filme de Animação pelo círculo de críticos de Nova Iorque e Los Angeles.

Persépolis é a história tocante de uma menina que cresce no Irão durante a Revolução Islâmica. Esta é a história biográfica, na forma de filme de animação, de Marjane Satrapi, conhecida por ter sido a primeira iraniana a escrever banda desenhada. É pelos olhos da corajosa e sonhadora menina de 9 anos que se observa a esperança do povo que, pouco a pouco, vai sendo destruída com os fundamentalistas, que obrigam as mulheres a usar véu.

Preocupados com a ousadia de Marjane, que, apesar das proibições, descobre a cultura punk, os Abba ou os Iron Maiden, os pais tomam a decisão de a enviar para uma escola na Áustria. De início, é confundida com o fundamentalismo religioso, precisamente do que fugiu, mas, com o tempo, acaba por ser aceite. Mais tarde, regressa ao Irão mas, aos 24 anos, percebe que não pode continuar no seu país, pelo que vai viver para França, com uma atitude optimista face ao futuro.

Este é um filme comovente, trágico e que deixa o espectador a pensar em como, apesar de tudo, há pessoas que continuam a lutar, o que é essencial.

Inês Moreira