segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Gomorra, de Matteo Garrone

Falar de Mafia é falar de Itália. Mas não é pela Máfia dos Sopranos ou d’O Padrinho que Itália ganha este estatuto desgovernado. Há um outro tipo de Máfia, composta por gente de classes mais baixas, que se vêem obrigadas a criar a sua própria força de ataque, numa Nápoles onde se tem de atacar para não ser atacado. Se a melhor defesa é o ataque, não há forças neutras - ou estás de um lado, ou estás do outro - não há família, não há amigos.

Gomorra apresenta-nos exactamente este tipo de Máfia, um poder mais forte que o Governo, um poder descentralizado, onde tanto é grupo uma família como o são dois rapazes que, condenados por nascer no meio destas forças de constante ataque, se vêem obrigados a criar a sua própria Máfia como forma de fugir ao destino de ser comandado por uma das forças existentes.

O dinheiro está sempre presente no filme. Tudo gira à volta dele. E ele abunda, pelo que nos faz reflectir o seu real valor, ao vermos uma mesa repleta de notas, numa casa semi-abandonada num bairro social em péssimas condições. E se num segundo a mesa abundava de dinheiro, passados uns tiros já estava noutras mãos.

Baseado no livro de Roberto Saviano, este filme é uma referência para um tipo de cinema realista, que corta com os sonhos, com os mitos e de certa forma também com um certo glamour que está associado a esta actividade. É um filme feio, como a história merece.

André Duarte

Tsotsi, de Gavin Hood

“Tsotsi” é um filme baseado no romance do sul-africano Athol Fugard que retrata seis dias da vida de um jovem bandido, David ‘Tsotsi’ (Presley Chweneyagae).

O filme, realizado por Gavin Hood e que ganhou, em 2006, o Óscar para melhor filme estrangeiro, foi rodado em Soweto, nos arredores de Joanesburgo, onde inúmeras barracas velhas e enferrujadas cobrem uma vasta área de terra. E é nestas barracas que assistimos, em flashback, à infância perdida de David e à sua luta pela sobrevivência num meio onde o apoio familiar ou social é escasso, se não mesmo nulo. Após fugir de casa e passar a viver em tubos de construção com outras crianças abandonadas, David tenta esquecer-se do seu passado adoptando o nome de Tsotsi, que na linguagem de rua significa "bandido" ou "vadio. E é isso mesmo que a personagem de Chweneyagae representa, um vadio, um jovem sem nome, sem qualquer tipo de compaixão pelos outros (ou assim somos levados a crer), sem passado, sem planos para o futuro e com planos para o presente que incluem apenas assaltos com o seu gang: Aap (Kenneth Nkosi), o amigo de infância, Butcher (Zenso Ngqobe) e Boston (Mothusi Magano), um jovem que defende os conceitos de “respeito” e “decência".

Tudo parecer mudar para Tsotsi quando encontra uma criança no banco de trás de um carro roubado. Sem avaliar a possibilidade de devolver a criança aos pais, Tsotsi decide tomar conta deste bebé até se aperceber que precisa da ajuda de uma jovem mãe, Miriam (Terry Pheto).

Este é um filme que confronta o espectador com as escolhas e consequências das acções humanas. É um filme controverso na medida em que leva a sentir compaixão (ou até compreensão) por uma personagem tão problemática e, por vezes, violenta. Leva-nos a compreender, mesmo que por breves momentos, as atitudes, indecisões e dúvidas de um jovem ‘tsotsi’.

Carolina Cunha

Two-Legged Horse, de Samira Makhmalbaf

Depois de um acidente com uma mina anti-pessoal, um rapaz afegão perde a mãe e as duas pernas, acabando por, mesmo assim, desenvolver uma grande capacidade de locomoção saltitando pelo chão. Mesmo assim, quando o pai vai de viagem aluga os serviços de um rapaz deficiente para se tornar o transportador do filho.

O que se segue é uma viagem perturbadora à natureza humana, com a malvadez do amo a transformar lentamente o criado num animal, torturando-o, alugando-o a outras crianças para que usufruíssem dele, entre muita mais humilhação.

Premiado com o Prémio do Júri no Festival de San Sebastian, este trabalho da até então desconhecida realizadora iraniana torna-se o reflexo do efeito do poder nas pessoas, e de como este as deforma, mostrando que situações de infortúnio são muitas vezes catalisadores de “ditadorezinhos”, e de como a revolta interior nunca é boa conselheira.

Com a metáfora levada talvez demasiado longe, com a colocação de uma sela no rapaz ou o pregar-lhe de ferraduras, este é no entanto um dos filmes mais importantes vindo daquela região do mundo nos últimos anos.

Luís Pedro Ferreira

Ciclo Continental - Feira das Nações AEFEUP

O CineFEUP está de volta e vai apresentar, em pareceria com a Feira das Nações da AEFEUP, 3 filmes dedicados a 3 continentes:

38 Fev, Ásia - Two-Legged Horse, de Samira Makhmalbaf

01 Mar, África - Tsotsi, de Gavin Hood

02 Mar, Europa - Gomorra, de Matteo Garrone

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