terça-feira, 22 de março de 2011

Gummo, de Harmony Korine


Xenia, Ohio, 1974 - Um tornado abala uma pequena cidade do interior norte-americano, levando tudo com ele. Aparte da devastação facilmente visível que o tempo se encarregou de esconder, há uma outra destruição bem mais grave, a um nível psicológico, na vida destas pessoas. O fim dos interesses, dos objectivos, do significado das suas próprias vidas, torna esta pequena cidade num misto de terceiro mundo com o que se poderia descrever como uma capital do Nihilismo.

Num mundo onde o único sentimento é a atracção sexual, nota-se que a evolução se tornou no seu antónimo, ficando claro um regresso aos instintos primários do ser humano. Vemos delinquência em toda a parte, mesmo pela mão daqueles que, não tendo sofrido a devastação do tornado, sofrem das consequências do ciclo vicioso que este deixou em lugar da sociedade, pelo que filho de lixo, lixo tornar-se-á.

A inversão extende-se ao paradigma humano - a natureza destruiu e o humano interiorizou a nova ordem: destruir é o novo construir. A isto se resume este filme de Harmony Korine, sem história, sem enredo, sem esperança nem objectivos: é o retrato de uma série de vidas condenadas.

Odiado pela crítica, adorado por grandes realizadores como Werner Herzog - que faz questão em destacar a fatia de bacon colada à parede na cena do banho -, Gummo é um dos filmes mais estranhos de sempre e que assegura que quem o vê tem apenas estas duas opções.

André Duarte

1 Comentário:

Literatura disse...

Realmente concordo com o que disseste a respeito do filme. O sentimento que nos advem do mesmo quando o assistimos é dos piores possível. Um misto de enjoo e revolta, ódio e susto. Agonia e catarse. Penso ser a catarse a nossa principal reaçao diante do mesmo.

Recomendo para quem é corajoso assisti-lo.

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